Assuntos teológicos

Assuntos teológicos

terça-feira, 24 de novembro de 2015

o Louvor da igreja


Calvino e os Salmos

O sacrifício da Nova Aliança é o louvor diz Hb 13:15. Este louvor “é o fruto de lábios que confessam o seu nome”. É a Palavra que nos faz conhecer e confessar o Nome de Deus.o Louvor é o fruto da palavra pregada.

Como deve ser este louvor? Respondendo a esta pergunta, encontramos uma característica do

Culto Reformado: cantar salmos. Especialmente o reformador João Calvino é responsável por esta característica. Para ele, cantar salmos tem prioridade. Mas ele não sabia que Ef 5:19 e Cl 3:16 falam de “salmos... hinos e cânticos espirituais”? Claro que sabia. Por isso, Calvino não defendia o uso exclusivo dos salmos nos cultos, como alguns calvinistas pensam. Em sua primeira publicação litúrgica (1539), Calvino ofereceu ao povo de Deus não somente alguns salmos rimados, mas também alguns cânticos, baseados em trechos bíblicos. Na Igreja de Genebra se cantavam os Dez Mandamentos e o Credo Apostólico! 
Credo apostólico


Calvino não era contra o uso de hinos, desde que fossem baseados em versos ou trechos da Bíblia.

Mas os salmos tinham prioridade e Calvino fez questão de oferecer à Igreja todos os 150 salmos rimados. Ele concordava com uma palavra de Agostinho: “Ninguém pode cantar de modo digno perante Deus se não cantar aquilo que recebeu de Deus”. Por isso, Calvino concluiu que não há cânticos melhores do que os Salmos de Davi porque eles foram inspirados pelo Espírito Santo.

A MÚSICA NA DISPENSAÇÃO DA LEI

O trono de Deus é estabelecido em louvores e por isso a música existe desde o princípio e permanecerá para sempre, pois o nosso Deus será eternamente louvado.


Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.
Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina,
Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?
Jó 38:4-7
Mas nós bendiremos ao Senhor, desde agora e para sempre. Louvai ao Senhor.
Salmos 115:18
A música é eterna.
A música é um instrumento de louvor a Deus, um meio de expressão e acima de tudo uma força dinamizadora de poder, energia e vitalidade, capaz de exercer grandes influências não só nos seres humanos como também nos animais e nas plantas. Schimichi Zuzuki, musicólogo contemporâneo japonês, ao escrever um método de aprendizagem musical para crianças disse: “Meu propósito principal, não é o ensino da música. O que aspiro é formar bons cidadãos. Se uma criança escuta boa música, desde que nasce e aprende a executar um instrumento, adquirirá sensibilidade, disciplina, retidão e nela se formará um lindo coração”.

O SIGNIFICADO DA MÚSICA PARA OS JUDEUS

A Bíblia nos informa que a música sempre esteve presente na vida da nação judaica, como seu melhor meio de expressão. Daí a razão dos maiores eventos da história de Israel acharem-se registrados em cânticos (p. ex. Êx 15:1-21 e SI 126). “A história dos Judeus contém inúmeros acontecimentos em que a música desempenha papel importante, desde as muralhas de Jericó que caíram ao toque das trombetas, até o cuidado dispensado à música do grande templo de Jerusalém. Esse povo, que mostrava inclinação para a escultura e pintura e a quem era proibido representar a Deus por imagens, concentrou toda a sua força criadora na poesia e na música que serviam por excelência à religião” (Kurt Pahlan).

Foi no reinado de Davi que a música teve o seu maior desenvolvimento e, elevada ao nível de ministério, tornou-se exclusiva da religião. Davi sendo rei, músico e poeta, criou técnicas para fabricação de instrumentos, desenvolveu a arte do canto, com formas ainda usadas nas igrejas e instituições musicais em todo mundo e estruturou o ministério da música a serviço da religião, até hoje não superado.

O ministério dos Levitas 

E pôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, com saltérios, e com harpas, conforme ao mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por mão de seus profetas.
2 Crônicas 29:25
 A música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (2 Cr 29:25). Sendo Davi músico e conhecedor do valor da música na vida de seu povo e da religião, passou a desenvolvê-la em termos de ministério, através do desempenho de quatro mil músicos com os seguintes critérios e funções: 

1. Critérios:
1.1. Escolha 
E pôs alguns dos levitas por ministros perante a arca do Senhor; isto para recordarem, e louvarem, e celebrarem ao Senhor Deus de Israel.
Era Asafe, o chefe, e Zacarias o segundo depois dele; Jeiel, e Semiramote, e Jeiel, e Matitias, e Eliabe, e Benaia, e Obede-Edom, e Jeiel, com alaúdes e com harpas; e Asafe se fazia ouvir com címbalos;
1 Crônicas 16:4,5
Os quatros mil não foram alistados por vontade própria, mas por vontade de Deus.

1.2. Purificação

Escolhidos da tribo de Levi, por exigência do próprio Deus, eram purificados para exercerem as funções determinadas no seu ministério.
Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os
Números 8:6
2. Funções:
2.1. Louvar (1 Cr 16:4,5)

2.2. Profetizar (1 Cr 25:1-3)

2.3. Ensinar (1 Cr 15:22 e 25:5-7)

2.4. Santificar (2 Cr 29:5)

Podemos destacar dentre as funções, o ensino da música e o desenvolvimento do canto. Davi juntamente com Quenanias e mais duzentos e oitenta e oito mestres criaram formas e desenvolveram técnicas de canto que até hoje são usadas em todo mundo. Vejamos alguns exemplos:

Regência de canto coletivo congregacional;
E os levitas: Jesuá, Binui, Cadmiel, Serebias, Judá, Matanias; este e seus irmãos dirigiam os louvores.
Neemias 12:8
Regência dos cantores ou coral;
Como também, Maaséias, Semaías, Eleazar, Uzi, Joanã, Malquias, Elão e Ezer; e faziam-se ouvir os cantores, juntamente com Jezraías, o seu superintendente.
Neemias 12:42
Uso de instrumentos adaptados ao acompanhamento do canto.
E Matitias, Elifeleu, Micnéias, Obede-Edom, Jeiel, e Azazias, com harpas, sobre Seminite, para sobressaírem.1 Crônicas 15:21
Pela necessidade de tempo para a boa formação e bom desempenho do músico, o trabalho era permanente e de dedicação exclusiva. Davi, sendo músico, foi sensível a essa necessidade (1 Cr 9:33 e 6:31-32). A manutenção dos músicos era através dos dízimos e ofertas, porque o ministério fazia parte do sacerdócio, sob a responsabilidade do rei (Ne 12:46-47; 10:37,39; 13:10,12,14).

A MÚSICA NO NOVO TESTAMENTO

 Depois de um silêncio de quatrocentos anos entre os céus e a palestina, a música volta a aparecer como serva fiel da igreja, fazendo-se cumprir as palavras cantadas pelo salmista: “E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e temerão e confiarão no Senhor” (SI 40:3). O novo cântico da graça e do amor brotou nos corações dos escolhidos como prenunciadores das novas de Salvação: “Magnificat” (Lc 1:46-55), “Benedictus” (Lc 1:68-79), “Glória in ExceIsis Deo” (Lc 2:14) e “Nunc Dimitts” (Lc 2:29-33). E a partir de então, os corações dos crentes romperam em cânticos, pela experiência da graça de Cristo, como jamais cantaram e deixariam de cantar. Conforme o testemunho de Plínio (109 A.D.), o cristianismo passou a ser chamado “a religião do canto”. 

A ATITUDE DE CRISTO EM RELAÇÃO À MÚSICA

A arte da música e do canto entre o povo de Israel, não se extinguiu com a dispensação do Velho Testamento. E é evidente, que na época de Jesus, a música continuava com as mesmas funções estabelecidas por Deus, a serviço da religião.
Por muitas vezes, Jesus foi visto, participando dos cultos e das festas solenes no templo, sem jamais, em qualquer ocasião proferir palavras de censura ou reprovação aos cânticos entoados. Os discípulos e a multidão O aclamaram com cânticos por ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém.
E, quando já chegava perto da descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se, começou a dar louvores a Deus em alta voz, por todas as maravilhas que tinham visto,Lucas 19:37
Possivelmente, Jesus cantou muitas vezes em sua vida. No entanto, a Bíblia faz referência especial à ocasião da Ceia, quando ele incluiu a música, consagrando-a a serviço do culto cristão (Mt 26:30; Mc 14:26).
E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras.
Mateus 26:30
A partir daquele momento, o ministério da música, na nova dispensação, era estabelecido como meio de expressão de fé e manifestação da graça divina através de Cristo.

COMO O MINISTÉRIO DA MÚSICA FOI ESTRUTURADO NO NOVO TESTAMENTO
 Cremos que o canto de glorificação a Deus cantado por Jesus, na Ceia, antes de ir para o Monte das Oliveiras, teve um sentido de resgate da música do Judaísmo para o cristianismo (Mc 14:26). A música expressão de fé, dom da graça divina e liberdade do evangelho, em Jesus, passa a pertencer ao “sacerdócio real” (1 Pd 2:9) ou ao reino e sacerdotes de Deus (Ap 1:6). Portanto, no Novo Testamento, a música se apresenta com uma estrutura nova e específica mas como um resultado ou aplicação do que ela foi no Velho Testamento. 
O apóstolo Paulo, por formação acadêmica, também sabia música e como doutor da lei, era grande conhecedor do ministério criado por Davi. Portanto, com conhecimento e sabedoria, orientou as igrejas com os mesmos princípios estabelecidos no Velho Testamento.

1. Em Relação aos Critérios

Na dispensação da lei a música era ministrada pelos levitas, cujos critérios eram: escolhidos e purificados (1 Cr 16:4-5 e Nm 8:6).
Na dispensação da graça é sacerdócio dos crentes, cujos critérios são: eleição e santificação (Ef 1:4 e 1 Ts 4:7).

2. Em Relação às Funções

Na dispensação da Lei as funções da música, exercidas pelos levitas, eram: louvar, profetizar, ensinar e santificar.
Na dispensação da graça as funções da música exercidas pelos crentes, são:

2.1. Louvar – “louvando com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3:16 e Ef 5:19).
2.2. Profetizar – “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3:16). Os levitas músicos transmitiam a palavra recebida de Deus (2 Cr 20:14). Os músicos crentes transmitem a palavra revelada como regra de fé e prática da vida.
2.3. Ensinar – “...instruindo-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais” (CI 3:16).
O preparo e a eficiência foram as grandes características do ministério da velha dispensação. Nele havia mestres como Asafe, Jedutum e muitos outros que, além de Davi, compuseram cânticos que não só edificaram o povo de Israel no passado, mas que até hoje edificam o povo de Deus.
2.4. Santificar – “Edificando-vos com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3:16). Na dispensação da lei, os músicos eram ordenados a se santificarem. Na dispensação da graça, os crentes são eleitos para receber a marca da santificação que se expressa pelo testemunho de vida e pelo louvor. Deve existir coerência entre o que se vive e se canta.

A MÚSICA NOS NOSSOS DIAS

TEOLOGIA E MÚSICA

 Podemos dizer que existe uma única música certa para aquele específico lugar no culto. Não serve qualquer música em qualquer lugar. Tem que ser aquela. Pode ser até uma única estrofe. Naquele lugar tem a finalidade única de reforçar o que foi dito, tornar claro, subsidiar a Palavra. Disse Lutero: “em nome da Teologia, concedo à música o lugar maior no culto”. Ele não está dizendo que a música é mais importante que a Palavra, ou que a Teologia. A música tem que ser subsídio para a Palavra; se não for, ela estará fora do contexto. “Hoje o conjunto ‘Fulano de Tal’ vem aqui abrilhantar o nosso culto”. Por que? O culto não precisa ser abrilhantado. O culto não é uma festinha de aniversário. É fácil de perceber nos nossos dias uma confusão entre culto e festa. No Velho Testamento era mais fácil de se ver a distinção, porque existiam festas litúrgicas e momentos de adoração e sacrifício. Eram coisas diferentes. A festa era horizontal, era a hora de se alegrar no Senhor. 
Todo mundo se alegrava. Esta era a hora dos instrumentos, das danças, dos cânticos. Às vezes até no espaço do templo, inclusive, mas eram festas. Mas o culto sacrificial, o sacrifício, nem alegre era. Hoje temos misturado as coisas: Temos culto do pastor, culto do bebê, culto de formatura, culto das mães. Isso nos parece, criar algumas dificuldades para nós mesmos estabelecermos os limites. Até onde é “da mãe” e até onde “é de Deus”? Como vamos preparar o programa do culto e o sermão? 

OS BABILÔNIOS DE HOJE

Ouvimos muitas vezes pastores dizerem: “a gente precisa manter os jovens na igreja, os cultos precisam ser atraentes. Eu odeio essa música, mas tenho que deixar...” e quando cantam, muitos falam: “ainda bem que eles estão aqui, não estão no mundo”. É porque eles “estão aqui” que precisam fazer melhor que lá fora. Já houve uma época na nossa história reformada em que a música que acontecia nas igrejas era a melhor que se produzia naquele lugar. No séc. XVII, no séc. XVIII e no início do séc. XIX, se alguém visitasse uma cidade européia e quisesse ver e ouvir o que de melhor aquela população produzia, iria para a igreja. Lá havia a melhor música e a melhor arquitetura. Os músicos da corte do palácio iam lá aprender com os músicos da igreja. Havia uma romaria enorme até a cidade de Leipzig para aprender com Bach. Bach passou 45 anos de sua vida trabalhando como músico de uma única igreja (a igreja de St. Thomaz, em Leipzig). Sua obra inteira foi S. D. G. (Soli Deo Glori). Ele assinava assim. Essa era a sua finalidade; por isso ele fazia o melhor que podia, exatamente porque era para a Glória de Deus. O músico do palácio podia fazer de qualquer jeito porque fazia para ganhar dinheiro, era só para honrar o rei. Mas na igreja era o melhor que se podia produzir porque era para Deus. Percebe-se que mudamos radicalmente: estávamos na dianteira absoluta, e hoje isto mudou muito. Hoje nós estamos desesperadamente correndo atrás da música secular, para imitá-la, para ver se conseguimos manter o jovem dentro da igreja. É por isso que o povo não se importa mais com o nosso cântico de Sião. Os babilônios queriam ouvir o cântico de Sião, eram tocados em outros instrumentos, eram outros cânticos que não era o deles. Os babilônios (as pessoas fora da igreja) de hoje “não estão nem aí” com a nossa música. Hoje há várias rádios “gospel” tocando música o dia inteiro e não tem diferença nenhuma das outras (no sentido do estilo musical).

MÚSICAS BOAS E RUINS

 Mas a música continua tendo dois papéis no culto. O de impressão, de atmosfera, que ela já faz só com o instrumental. Mas o seu papel central no culto é o de expressão – é subsidiar o texto. E isso só acontece quando há um bom casamento entre os dois. Cada elemento diferente da música mexe com uma parte diferente do nosso organismo e isso faz com que sejamos integralmente atingidos, quer queiramos quer não, quer estejamos ouvindo ou não, quer sejamos perfeitamente hábeis, auditivamente, ou surdos completamente. A música consegue ser ouvida epidermicamente. A música influencia pessoas completamente surdas e altera o seu comportamento. Se delinear na mente de alguém a idéia de que estamos defendendo a música do hinário em detrimento dos novos cânticos (corinhos), ou defendendo coral em detrimento de conjunto, isso absolutamente não é verdade. Entendemos que existem hoje, muitas músicas novas boas e muitas ruins. A maior parte ruim por uma razão simples, porque elas ainda não foram filtradas pelo tempo; o tempo é um ótimo filtro. No séc. XVII também foi produzida muita coisa ruim, mas foi embora. Só ficaram as melhores. Existem muitas músicas novas boas sendo produzidas e, por outro lado, nos nossos hinários, existem muitas músicas que não são tão boas assim. Não é pelo fato de estarem no hinário que são boas. Como líderes, temos obrigação de analisar cuidadosamente os textos das músicas que estão nos hinários, dos hinos que vão ser cantados. Estamos, muitas vezes, cantando coisas impressas nos hinários em que nem sempre acreditamos. 

MÚSICA CERTA NO LUGAR CERTO

A nossa visão do que seja a música incorporada no momento de culto é que haja, primeiro, um trabalho muito consciente do líder na escolha do que vai se cantar; depois, aonde vai se cantar.

queria esclarecer um ponto em que a gente faz certa confusão. Existem hinos que são herança dos séculos XVII e XVIII, alguns são de estilo coral; alguns desses corais eram compostos e tinham cerca de 42, 43 e até 50 estrofes. Essas estrofes eram cantadas de acordo com o período por que se passava naquele momento. Por exemplo, se era uma época de Natal, cantava-se o trecho do hino que falava sobre o Natal. Muitas vezes, muitos desses hinos, são hinos que contam todo o plano da salvação. Esses hinos não foram compostos para ser cantados inteiros. Se você pegar o saltério de Genebra, por exemplo, que era o hinário de Calvino, ou o cancioneiro de Witemberg, de Lutero, vai encontrar muitos desses hinos. No saltério de Genebra vai encontrar o Salmo 119, inteirinho. Ninguém o cantava inteiro, evidentemente.
Cantavam-se trechos dos hinos, os trechos que tinham mais a ver com aquele momento de culto. Perdemos um pouco disso a partir do momento em que se passou a ter uma nova visão do hino: o hino apenas como subsídio musical do culto; canta-se o hino sem se preocupar com a letra. Se o culto está muito longo e o hino tem quatro estrofes e o coro, cantamos a primeira, a segunda e a última. Nunca a terceira. Mas às vezes a última começa com um “então”. “Então”, por que? Porque é a continuação da terceira. A nossa proposta é que cantemos as estrofes que servirem para aquele momento de culto. Pode até ser somente a terceira, se for a estrofe que sirva para aquele momento. Evidentemente, há hinos que não têm como ser partidos. Eles têm começo, meio e fim. Mas há muitos que são absolutamente compartimentados, eles foram pensados assim, para serem usados compartimentados. Vocês devem estar percebendo que isso exige trabalho e uma leitura cuidadosa.

PARÊNTESE NO CULTO

Quando começarmos a excluir isso, as coisas ganharão uma nova dimensão. Por exemplo, quando o grupo de jovens deixar de ser parêntese de culto. Por que é parêntese? Começa o culto, faz-se a leitura, e então passa-se ao momento de louvor. Abre-se o parêntese: o grupo vai para frente, afina os instrumentos e dirige o louvor. Canta-se uma vez uma música com todos, depois só as mulheres, então só os homens, explica-se o que o Espírito Santo faz na vida do crente; depois mais um cântico, mais um, outro mais.
Quarenta minutos depois, todo mundo em pé, fecha-se o parêntese e o dirigente diz: “agora vamos continuar o nosso culto...”. Esse é um grande erro, e é recente em nossa história cúltica. Quando nós todos éramos crianças, não havia isso. Isso começou a acontecer no final do séc. XIX, quando algumas denominações enfatizaram tremendamente o acampamento de jovens. Nasceu daí uma música especial para esses tipos de reuniões; chamados corinhos; mas a força maior surgiu, na verdade, nos anos 80, quando os acampamentos reuniam uma quantia muito grande de jovens e para esses acampamentos compunham-se e cantavam-se determinado tipo de música que não tinha nada a ver com a música que se cantava regularmente nas igrejas. Esses jovens passavam lá, um final de semana e quando chegavam na igreja queriam, com a maior das boas intenções, trazer aquela atmosfera, aquilo que sentiram lá no acampamento e a música que aprenderam e cantaram lá. Nessa mesma época, as nossas igrejas não estavam aparelhadas para oferecer um tipo de música alternativa de boa qualidade para os jovens. 

MÚSICA DE IMITAÇÃO

Será que a nossa música tem que ser uma imitação da música secular? Não! Será que, então, estamos defendendo aqui que devemos cantar somente os velhos hinos dos hinários? Também não. Será que estamos dizendo que os jovens não têm participação no culto? Também não. Gostaríamos muito de ver outra vez a música da igreja liderando o movimento cultural, que ela fosse melhor e nitidamente melhor.
Isso não é impossível. Temos visto isso acontecer em outros lugares, não no Brasil.
Nós, infelizmente, no Brasil, tivemos uma censura, uma lacuna muito grande. Quando os jovens procuravam por uma coisa nova não tinham isso sendo fornecido. A geração dos anos 30 cantou os hinos do hinário sem problemas; a dos anos 40, também, mas já cantou um ou outro corinho; a dos anos 50 cantou mais corinhos; a dos anos 60, só cantava corinhos; a dos 70 não quer cantar nada que não sejam as músicas novas. Por que? Porque quando a geração dos anos 50 e 60 procurou alguma coisa, não encontrou; os músicos sacros; se haviam, estavam calados; não havia ninguém compondo hinos, que pudesse ao lado do hinário, parecer como uma alternativa boa. Porque é muito fácil a gente falar para o jovem: “isso é uma droga”. Difícil é falar: “isso é melhor que isso” e fazê-lo sentir que é melhor mesmo.
Temos visto muito nas nossas igrejas pessoas falando assim: “O rock não pode”. “Por que?” “Porque não”. “Mas por que não?”, “Porque é do diabo”. “Mas por que é do diabo?” “Porque é”. Isso é resposta? “Esse tipo de música não pode por causa disso, disso, e disso”; “porque tem uma outra muito melhor, ouça”. Onde está essa parte? Não é só criticar: “esse conjunto de jovens é uma droga”. É mesmo, muitas vezes, mas onde está um melhor? Falta mostrar como fazer melhor, como fazer diferente. Pegar essa criatividade que está ai e multiplicar isso. Se for verdade que nos últimos anos a produção de música nacional sacra não esteve muito boa, para oferecer uma alternativa satisfatória, quem sabe os próximos anos serão melhores.
A geração passada quando quis cantar coisas novas não encontrou nada. Ou cantava as coisas velhas ou importava. E importou, num primeiro momento, dos Estados Unidos nem sempre as melhores coisas; num segundo momento imitou aquela música. Nas primeiras gravações de grupos alternativos jovens no Brasil, você tem música americana, autenticamente americana, traduzida para o português. Música jovem americana. Num segundo momento, música escrita no Brasil por eles mesmos, mas imitando o estilo que havia sido importado. Num terceiro momento, nacionalismo exacerbado; que condena tudo o que é importado e surgem os grupos superalternativos, proclamando que tudo que vinha de fora, em princípio, não prestava; a gente tinha que fazer uma coisa que fosse só nossa. É ai que se esbarrava num problema sério: de convencer o pessoal do Sul a cantar baião; isto é uma loucura, porque aquilo não era deles na verdade. Nós estamos tão fragmentados nessa questão cultural, que para o pessoal do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o coral alemão era muito mais música deles do que baião.

BOA PERGUNTA: E AGORA, O QUE A GENTE FAZ DOMINGO QUE VEM?

A primeira coisa: já vai melhorar muito quando lermos os textos dos hinos (seja dos hinários ou corinhos) cuidadosamente, e isso não é fácil de fazer: ler o texto criticamente quer seja um dos novos ou do hinário. É muito difícil porque: primeiro, quando lemos um hino impresso, lemos com respeito, pois consideramos uma palavra “meio inspirada”; temos dificuldade em criticar, ainda que esteja péssimo em linguagem e Teologia; a segunda dificuldade que temos em relação aos hinos é que muitos deles nos acompanham há muito tempo, então, estamos muito ligados emocionalmente a eles. Temos uma ligação emocional que não nos permite ser racionais, muitas vezes, para fazer uma análise honesta daquele texto. Se conseguirmos fazer isto seriamente, sempre, tanto com os hinos do hinário como com os novos, num primeiro momento; e, num segundo momento, feito esta seleção, encontrarmos o lugar “certo” deles acontecerem; e ao invés de um pacote de 40 minutos de música, usaremos dentre aquelas 6, 7, ou 8 músicas selecionadas, aquela certa para o momento certo, então o nosso culto passa a ter coerência e as pessoas começam a ter a sensação de começo, meio e fim. E isso já melhora no domingo que vem!
E depois, entendemos que a função dos líderes nas igrejas tem que ser despertar nas pessoas vocacionadas para a música o senso de responsabilidade de que estão fazendo uma coisa muito séria. Descobrir essas pessoas e levá-las para frente. Para frente não quer dizer para frente da igreja, para tocar. Quer dizer: “levá-las a aprender”. Ninguém tem mais desculpas de que não tem onde aprender. Há cursos ótimos, professores ótimos, em muitos lugares. É preciso resgatar a importância de se aprender música, que se perdeu na nossa cultura.
e pra finalizar: adorar e louvar, não é cantar simplesmente. é preciso ter uma coisinha chamada, vida de oração.

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